Há
séculos que o Homem tem vindo a associar, muito sabiamente, os
benefícios da água ao seu bem-estar físico, mental e espiritual. Desde
os Mesopotâmios, Egípcios e Minoanos, aos Gregos, Romanos, Otomanos,
Japoneses e Europeus foram várias as civilizações que emprestaram
sabedoria e popularidade à prática milenar do
spa, que chegou aos nossos dias com saúde para dar e vender.
- A própria palavra spa e todo o conceito a
ela inerente remete-nos para o antigo Império Romano, onde
guerreiros exaustos e lesionados procuravam alívio nos banhos
quentes. Depressa começaram a construir banhos públicos onde
usufruíam de tratamentos que foram baptizados com a expressão
latina "salut per aque" que significa “saúde através da água”.
- Outros referem que a palavra spa tem a
sua origem numa vila belga com o mesmo nome, também conhecida
pelos seus banhos públicos relaxantes e renovadores. Existente
desde o tempo dos romanos, atingiu o seu auge no século XIV, sendo
ainda hoje um destino muito procurado.
- No entanto, já na Mesopotâmia, uma região da
Ásia Menor de terras férteis e banhada pelos rios Tigre e
Eufrates, se praticavam terapêuticas ligadas à água na era de
4.000 a.C. Achados arqueológicos demonstram que na época de 2.000
a.C. também os egípcios se deliciavam com os prazeres de um banho
quente e regenerador. Reza a história que o primeiro jacuzzi terá sido moldado em granito para o Rei Phraortes da antiga Pérsia, por volta do ano 600 a.C.
- Os Gregos, por sua vez, também perceberam cedo
os benefícios da água quente na procura de melhor saúde e no
alívio das dores e/ou doenças. Tanto até que exploraram ao máximo
as suas potencialidades, ao criarem imponentes infra-estruturas de
apoio em torno das nascentes de água quente. Ponto de encontro e
de convívio, os banhos públicos eram, não raras vezes, palco da
vida social grega e os trabalhos escritos de grandes filósofos
como Platão, Homero e Hipócrates registaram para a história estas
actividades.
- Mas a verdade é que foram os Romanos quem elevou o spa ao seu luxo máximo. Apesar de em 25 a.C. já fazerem spa
há mais de dois séculos, foi neste ano que a civilização romana,
pelas mãos do Imperador Agrippa, viu construída a sua primeira
grande estância termal (ou “thermae” que é a palavra grega para
“calor”). Cada vez maiores e mais extravagantes, a partir desta
altura, cada imperador tentava exceder os feitos do seu
antecessor. As termas do Imperador Diocletian, por exemplo, tinham
uma lotação para seis mil banhistas!
- A moda das termas romanas pegou, chegando a todo o Império
Romano, desde África a Inglaterra, ganhando, pelo caminho, uma
importância cada vez maior. Em poucos anos, os simples banhos públicos
transformaram-se em gigantescos complexos recreativos e sociais, onde
não faltavam espaços desportivos, locais para massagens, salas de
convívio e de reuniões, restaurantes e até bordeis!
- Para além de todo o aparato e divertimento que rodeava as
estâncias termais romanas, estas nunca perderam o seu verdadeiro
intuito, antes aperfeiçoaram-no. Os próprios médicos passaram a
receitar a prática termal, encorajando a frequência dos banhos públicos
a quem procurava melhorar a saúde e viver mais tempo.
- A conquista de corpo e mente sã era e sempre foi o grande objectivo do spa,
chegando nessa altura, a obedecer a um processo muito próprio, com
espaços condizentes bem definidos. Os aquistas entravam para o
vestiário (“apodyterium”), seguindo para a “palaestra” onde iniciavam
exercícios de aquecimento. Seguiam-se três salas distintas –
“tepidarium” (sala de banhos tépidos), “praefurnium” (local das
fornalhas que aqueciam a água e o ar) e “caldarium” (espaço dos banhos
de água quente) – que, para além dos banhos, incluíam rituais de
esfoliação e massagem com óleos apropriados. A experiência termal
terminava no “frigidarium” com um mergulho em águas frias e a
recuperação efectuava-se no “sudatorium” (um tipo de sauna) ou na
biblioteca (tida como local de relaxamento).
- A queda do Império Romano e a introdução do
Cristianismo – que não tolerava o nudismo, nem a promiscuidade –
colocou um ponto final nas práticas termais. No entanto, ainda
hoje é possível ver e visitar ruínas de antigos banhos romanos, em
países tão diferentes como Algéria, Bulgária, França, Espanha,
Portugal, Reino Unido, Alemanha, Hungria, Itália, Roménia,
Turquia, Líbia e Holanda, entre outros.
- Entretanto, também outros povos haviam descoberto o prazer
das águas. A primeira nascente de água quente japonesa (“onsen”) foi
descoberta em 737 d.C. e, desde então, a cultura termal tornou-se uma
tradição asiática. Com vários séculos de existência, os "ryokens", com
excelentes ofertas de alojamento e restauração, jardins zen, banhos
interiores e exteriores, conquistaram desde logo muitos adeptos.
Igualmente conhecida é a expressão japonesa “Mizu-no-Kokoro” que
significa “a mente como a água”, ou seja, em tranquilidade e em
harmonia com todo o resto.
- Na costa do mar Báltico, nomeadamente na Finlândia, as saunas surgiram no ano 1000 d.C., dando início aos rituais de spa
que ainda hoje existem e que contemplam o calor da sauna com os
mergulhos em lagos gélidos... tudo acompanhado de uma boa cerveja ou
vodka!
- Quem não conhece os banhos turcos? Criado pelos Otomanos,
os “hammam” eram espaços de encontro social por excelência, oferecendo
um ritual de purificação que combinava uma boa sauna com as práticas
termais romanas. As próprias infra-estruturas dos “hammam” foram muito
aclamadas, devido à sua magnífica arquitectura. Construído em 1556, um
dos “hammam” mais famosos é o de Roxelana.
- Durante a Idade Média, e quando as ervas e as
loções não produziam as curas desejadas, a sociedade voltou-se
novamente para as propriedades terapêuticas da água. Alvo de um
estudo alargado, depressa se comprovaram, por exemplo, os
benefícios das águas sulfúricas no tratamento de doenças de pele
ou as vantagens da água rica em sais de bromo e iodo para o
tratamento da infertilidade feminina.
- Com a descoberta da impressão na época do Renascimento, as práticas do spa
foram amplamente divulgadas e o recurso à hidroterapia cresceu
exponencialmente. Foi também nesta altura, mais precisamente em 1522,
que surge o primeiro livro científico sobre os poderes curativos da
água. Os estudos prosseguiram durante o século XVIII, sendo estas
terapias alvas de análises científicas e médicas.
- Com um conhecimento e difusão cada vez mais alargada,
ninguém ficou indiferente aos poderes da água que mereciam e muito bem o
antigo e muito proclamado "salut per aque". No entanto, os spas não eram para todos e, durante os séculos XIX e XX, estiveram reservados para as classes altas.
- Nos Estados Unidos a moda pegou por volta do ano 1850 com a
criação do New York Saratoga Springs, um refúgio para as
personalidades da época, caso de Edgar Allan Poe ou Franklin Roosevelt.
O primeiro day spa – Red Door Salon – abre as suas portas em
Manhattan em 1910, graças a Elizabeth Arden, que disponibiliza serviços
de manicure, limpezas de pele e a famosa cera Arden. Sucedem-se a
abertura de espaços semelhantes, com destaque para a inauguração, em
1958, do Golden Door Spa na Califórnia, que oferecia programas
personalizados de emagrecimento e ginástica. O resto, como se diz, é
história!
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